"Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente." ~ Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 2 de março de 2011

Devaneios



Assovios ao longe. Bem longe. Uma esfera no topo da montanha. Lá vem a solidão embaçando as vidraças. Fumaça de cigarro sufocando pulmões sadios. Verdadeiramente escondendo suas loucuras num estojo de tecido branco encardido e surrado. É uma batalha de praxe em sua vida quando a única companhia para suas angústias são as letras do alfabeto. Não importam as lacunas a serem preenchidas e nem os desaforos levados para casa. Ousar não é um grande negócio quando a necessidade da cura obstrui qualquer passagem para o fatídico orgulho.
Por isso, ela procura espaço no seu caderninho. Folhas em branco, apertando a sua caligrafia a fim de que as páginas já escritas possam dizer um pouco mais sobre (ou como) - suporta - suas dores.   
Segura firme a caneta entre os dedos. Não quer arriscar que linhas assim saiam trêmulas. Não. Mãos fortes sempre agarram com mais força qualquer objeto... E ela não vai soltar. Porém, ela sabe que o quê não estiver no papel, brevemente estará no céu de sua boca desatando nós e qualquer vestígio traiçoeiro que se manteve escondido na alma será compelido.
Uma dose de álcool a submete à extropecção até o segundo em que se vê perdida no abraço cheio de calos da ilusão. Procura motivos para sacrificar sua desinibida invenção de felicidade. Sempre encontra. O medo se transforma em coragem para se desfazer dos últimos pedaços dessa colcha de retalhos suja de suor e sal. Nem sexo. Nem beijo. Nem lágrima. Nem suspiros. Nem sabor. Nem sua aguçada intuição. Nem caralho nenhum de objeções alheias.
Ela sabe. Provém-se. Mas, isso não basta. Ela quer mais e vai ter. Fim. Enfim. Querubim.


by Pollyanne Medeiros



adendo: img da web







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