"Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus — enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro". Caio F. Abreu
Uma sala vazia. Apenas um silêncio mudo atravessa a garganta e sentimentos hostis arranham as paredes. Está sangrando e, muito. As evidências de que uma vida respira ali sucumbirão. Nenhuma pista, nem memória e nem fotografias.
A janela está aberta, mas foi esquecida. As fechaduras da prisão foram violadas e não um há plano de fuga. O céu gris ameaça uma tempestade. Os punhais de seu algoz têm as pontas envenanadas, ela não resistirá muito tempo. E, a tempestade virá. Com certeza. O dilúvio a afogará, aniquilando o último suspiro, o pouquinho que lhe resta.
Luna tivera um dia ocioso. Algumas leituras a distraíram, mas as horas estavam absurdamente letárgicas. Tudo o que queria era ser a dona do tempo nessas desgastantes esperas. Recusava-se a encontrar um remédio para as suas inquietações. Muitas tentativas frustradas de despistar a desesperada melancolia que rugia dentro do peito a fizeram finalmente ceder. Fora vencida. Apunhalada. Decidiu ir para o boteco mais próximo e desmembrar o terreno baldio que a compunha há dois outonos numa tarde de ingestões etílicas e baforadas de nicotina.
Ela sabia que sua atitude pueril apenas anestesiaria a sensação escrota que corrompia sua paz. Pouco importava o julgamento alheio. Conhecia muito bem os venenos do covil de najas. Ignorava. Repudiava. Um copo. Dois. E mais uns mais. Folha de papel e grafite. Começava a mapear até encontrar a estrada, o caminho certo... Não imaginava que as vertigens do seu sangue maculado a guiaria para um campo minado. E, o senhorio do tempo, codinome destino, a colocaria outra vez cara a cara com uma velha conhecida: solidão.
By Pollyanne Medeiros.
Adendo: img internet
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