
Numa montanha muito alta havia uma cabana. Bem simples.
Ao redor dela arvoredos e flores. Um pequeno riacho banhava a campina que parecia um belo tapete verde.
Na noite o céu estrelado era o verdadeiro bálsamo para um sono tranquilo. O Sol era quase sempre sorridente; ofuscado apenas algumas vezes pelas nuvens tempestuosas. O lugar mais feliz do mundo.
Na cabana morava uma bela alma. Encantadora. Feliz. Iluminada. Perfeita.
Alba. Era o seu nome.
Cor dos lírios. Perfume de jasmim. Voz de pássaros cantores. Leveza de uma pluma. Suavidade de pétalas de rosas. Vôo de borboletas. Sedução de um beija-flor. Mistério da natureza.
Alba conhecia muitos lugares, mas nunca saía de sua cabana. Ali, na cabana, tinha tudo que precisava... Proteção, luz e fé.
Tinha um sonho: “Um dia descerei a montanha.”, dizia.
Um belo dia, na alvorada, diante do riacho decidiu que desceria a montanha e prometera a si mesma que voltaria à cabana. Juntou tudo o que a natureza tinha-lhe dado e seguiu o caminho que a levaria para o mundo.
Alba sempre imaginara o mundo. Dos lugares os quais conhecera apenas o mundo era um mistério. Seguiu a trilha cheia de rochedos, florestas densas e animais ferozes. Nunca tivera medo. Atravessou rios, conheceu mares e os oceanos. Nunca tivera medo. Foi andarilha de chãos desérticos e alagados. Nunca tivera medo. Chegou ao portão do mundo... Pela primeira vez sentiu medo. Lembrou-se da tranquilidade da montanha, da familiaridade de sua cabana... Sentiu medo, medo de não saber voltar. O mundo pareceu-lhe inofensivo em sua mente sonhadora, agora, diante de si, o mundo parece-lhe cheio de tocaias. Lembrou-se, então, das três coisas que nunca lhe faltaram na cabana. E, resolveu seguir adiante. O caminho de volta pra casa será mais fácil se o desconhecido for devendado. E, para Alba, o que ela desconhece é apenas um ponto de partida para avançar um passo. O mundo era o desconhecido e ela o desvendaria.
PRIMAVERA
O Céu nunca esteve tão azul. Alba caminhava sob chão de pedras deslumbrada com as cores, as pessoas, e as cabanas... Cabanas tão altas e tão duras o mundo tinha. Seu olhar curioso acompanhava todos os detalhes. Algumas vezes, algo soava docemente em seus ouvidos; outras vezes, não a agradava. No entanto, Alba queria saber de tudo, conhecer, tocar, sentir, ouvir, cheirar.
Entre ruas movimentadas admirava-se com as multidões, praças, discussões; lugares cheios de incoerências para sua alma sem as “contaminações” do mundo. Surpreendeu-se ao avistar de longe um ancião a meditar sobre as mesmas indagações que seu coração fazia. Decidiu sem temor algum, aproximar-se. Alba desconhecia a soberba, o egoísmo e a intolerância. Apressou os passos até o ancião e, imediatamente perguntou:
“Por gentileza, diga-me onde estou?”
O ancião olhou-a com ternura. Ficou em silêncio por alguns minutos, voltando-se para as suas abstrações. Alba conhecia o silêncio e resolveu acompanhá-lo. Sentou-se ao lado do ancião, observando em conjunto as coisas que nunca imaginava existir.
Veio-lhe a nostalgia. Sua cabana não causava um sentimento de impotência. Os dois, o ancião e Alba, ficaram ali em silêncio, longamente. Passaram-se alguns dias até que a primeira palavra fosse pronunciada:
“Estás no mundo governado pela arrogância e a crueldade.”
Alba escutou tais palavras incompreensíveis sem nada dizer. Preferia o silêncio. Sua cabana estava tão longe...
Percebendo isso, o ancião, continuou:
“De onde vieste, conhecia estas coisas?”
Ainda pensativa Alba deu-se conta de que conhecia a todos os lugares, mas jamais imganinava que ao descer a montanha, alguém pudesse tanto quanto ela sentir a tristeza de estar ali.
“De onde eu vim, conheci muitos lugares, mas igual a este, não. Por que vendo tudo isto, ainda preciso estar aqui? Por que sinto falta da minha cabana, minha montanha, mas ainda assim, quero ficar aqui?”
O ancião sorriu e respondeu-lhe:
“Porque este mundo apesar do caos, carrega em si a esperança.”
“Esperança? É isso que estou sentindo?”
“Sim, minha querida. A esperança não se perde nas incertezas. Toda a profundidade de um sentimento puro precisa alimentar-se da esperança.”
Alba, finalmente entendeu os motivos que a fizeram permanecer ali.
“A esperança é isso? Olhar tais coisas e, ainda assim, não querer subir a montanha?”
“Sua montanha, sua cabana, seus bens te pertencem até que seus olhos despertem às incompreensões do desconhecido e suas arapucas. Isso se chama medo.”
“Medo? Não tenho medo.”
“Somente porque o desconhecido ainda não manisfestou sua face mais obscura. Isso se chama maldade.”
“Pensei que conhecia tudo.”
“Minha querida, nada se conhece até que venham as revelações.”
“Eu sei o seu nome. Conheço-te. Por isso, estou aqui.”
“Conhece a mim, no entanto, surpreende-te com as coisas que vês.”
“Vejo o oposto de minhas consolações.”
“Não. Vês apenas o que não desejas. Isso se chama desilusão. A primeira cilada do desconhecido: é neste primeiro momento que o que não conhecemos nos decepciona. Acaso tua sabedoria não lhe impôs as provações?”
“As provações estão diante de mim.”
O ancião pôs-se a meditar novamente e, ambos comunicaram-se na quietude meio ao caos. Não havia mais necessidade de explicar o que Alba compreendera numa única palavra não dita. O Ancião decidiu que esta alma estava pronta para seguir adiante e cumprir sua missão.
Alba levantou-se, abriu os braços, respirou fundo, recebeu o sopro de vida e libertou-se.
*fonte da imagem:internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário